Retorno ao trabalho após lesão cerebral adquirida – Estratégias de apoio para as entidades empregadoras

Depois de uma doença ou acidente que causa lesão cerebral adquirida, o regresso ao trabalho é um novo desafio.

Como empregador, saiba como pode facilitar a re/integração e adaptação profissional.

Embora a gravidade e a combinação dos problemas variem de pessoa para pessoa, importa conhecer os impactos mais comuns e técnicas simples que poderão ajudar o colaborador a lidar com as mudanças causadas pela lesão.

TIPOS DE LESÕES CEREBRAIS

A lesão cerebral adquirida  é um dano completo ou parcial de algumas das células do cérebro humano, que pode ocorrer devido a:

  • Traumatismo Crânio-Encefálico (TCE) na sequência de quedas, pancadas fortes na cabeça ou acidentes;
  • Acidente Vascular Cerebral (AVC);
  • Hipóxia resultante da falta de oxigénio;
  • Infeções cerebrais (encefalites, meningite);
  • Aneurisma;
  • Tumor cerebral.

Os traumatismos crânio-encefálicos  e os acidentes vasculares cerebrais são as causas mais frequentes.

RECUPERAÇÃO DA LESÃO CEREBRAL

A necessidade de reabilitação e apoio depois de uma lesão cerebral é muito variável. Há pessoas com lesões que sentem apenas dificuldades ligeiras de longo-termo, e outras que podem necessitar de apoio e serviços especializados durante toda a vida.

Nos processos de recuperação, existem 3 elementos-chave:

  • Intervenção precoce;
  • Abordagem multidisciplinar;
  • Contexto estimulante.

Para o regresso bem-sucedido à vida ativa e profissional, a frequência de um programa de reabilitação e reintegração profissional pode ser decisiva.

COOPERAÇÃO ENTRE EMPREGADOR/COLABORADOR

Depois de uma lesão cerebral, a pessoa poderá sentir a perda de controlo de um ou vários aspetos da sua vida, sentir-se diferente em termos de capacidade de trabalho. Por isso, a relação entre empregador e colaborador será determinante. Estes passos, implementados em parceria empregador/ colaborador, podem facilitar o retorno ao trabalho.

1. Prepare um plano de ação:

  • Assegure o envolvimento de ambos (colaborador e empregador) no planeamento;
  • Defina responsabilidades;
  • Utilize estratégias de compensação como calendários, agendas, blocos de notas, lembretes, etc.

2. Torne as tarefas fáceis:

  • Subdivida a tarefa em pequenos passos;
  • Mantenha o contexto de trabalho livre de estímulos distrativos.

3. Utilize o formato da resolução de problemas:

  • Reconheça que existe um problema;
  • Defina o problema;
  • Decida sobre possíveis soluções;
  • Pese as vantagens e desvantagens de cada opção;
  • Escolha uma das opções;
  • Implemente a solução;
  • Avalie o seu sucesso;
  • Tente uma outra solução se a primeira não for eficaz.

4. Mantenha uma comunicação aberta:

  • Discuta o desempenho e as expectativas sobre o trabalho;
  • Avalie (autoavalie) o desempenho e devolva gentilmente, mas de forma realista, informação sobre o seu comportamento;
  • Identifique no imediato os sucessos, assim como as áreas de dificuldade.

ALTERAÇÕES DE COMPORTAMENTO, MEMÓRIA, PROBLEMAS DE RACIOCÍNIO E NA COMUNICAÇÃO APÓS LESÃO CEREBRAL

A lesão cerebral pode perturbar as seguintes capacidades:

  • Vigília (estado de alerta) e concentração
  • Perceção
  • Memória e aprendizagem
  • Raciocínio, planeamento e resolução de problemas
  • Discurso e linguagem
  • Controlo motor
  • Emoções
  • Consciência de si

Ao reconhecer os sinais/problemas de comportamento, memória, raciocínio e comunicação com que uma pessoa com lesão cerebral poderá confrontar-se,  há técnicas simples que poderá implementar.

A consistência e a repetição frequente das técnicas listadas irão aumentar as hipóteses de sucesso.

Dificuldades

O que fazer

  • confusão
  • Procurar uma rotina consistente nas tarefas diárias.
  • de memória
  • Reforçar a utilização consistente e sistemática dos instrumentos de apoio de memória (agendas; lembretes, post-it, etc.).
  • Dar “pistas” orais (palavras-chave) para que o colaborador se recorde.
  • de atenção
  • Evitar fatores distrativos no local de trabalho (ruídos, interrupções…).
  • Definir pequenos períodos de pausa entre períodos de atividade.
  • na tomada de decisão – dificuldades de julgamento
  • Pedir que escreva no seu bloco de notas as alternativas de ação dos problemas que sejam possíveis de prever.
  • Analisar, em conjunto, as vantagens e desvantagens de cada opção.
  • em iniciar ações
  • Simplificar as tarefas – desmontar as tarefas em etapas simples e pedir que realize uma etapa de cada vez.
  • em levar a cabo um plano de ação 
  • Desmontar tarefas complexas em pequenas unidades simples.
  • Pedir ao colaborador para repetir as tarefas que deverá realizar, de forma a certificar-se que entendeu bem as instruções.
  • de autocontrolo, impulsividade ou falta de inibição
  • Dar feedback verbal e não-verbal de forma apoiante, para o assegurar sobre o que está a fazer.
  • Se ocorrer algum comportamento indesejado, discutir em privado as suas consequências de forma apoiante e tranquilizante.
  • Reforçar positivamente todo o comportamento desejável.
  • com situações sociais
  • Demonstrar de forma clara quais são as expectativas de comportamento ajustado.
  • Encorajar o colaborador a parar e pensar sobre as respostas possíveis e ajustadas.
  • Se ocorrer algum comportamento indesejável, falar em privado de forma calma e confiante sobre o acontecido e as suas consequências.
  • em iniciar conversação
  • Encorajar o colaborador a participar oralmente.
  • Dar tempo ao colaborador para organizar o seu pensamento.
  • Reformular o que ele lhe diz de forma a certificar-se que entendeu bem a mensagem; ex. “O que quer dizer é…”
  • em seguir uma conversação
  • Ser claro e conciso.
  • Enfatizar a informação que é importante.
  • Incentivar o colaborador a fazer perguntas sempre que ele não entenda o que lhe é dito.
  • em participar numa conversação
  • Interromper, delicadamente, e pedir a palavra.
  • de expressão oral
  • Dizer ao colaborador que não entendeu e pedir para ele repetir o que tinha dito.
  • Definir o uso consistente de gestos ou pistas com significados inequívocos.
  • na comunicação não-verbal
  • Pedir, com delicadeza, para que modifique o seu contacto físico e explicar porquê (é desconfortável, fica pouco à vontade…).
  • Dizer, claramente, que fica confundido com a diferença entre a mensagem que é transmitida oralmente e o não-verbal.
  • fadiga
  • Reduzir, temporariamente, o horário de trabalho e as tarefas a realizar.

A disponibilidade da entidade empregadora para adaptar e acomodar as situações de trabalho irá ajudar a criar um contexto positivo e apoiante, o que poderá gerar uma experiência de trabalho mais eficiente e produtiva para a pessoa com lesão cerebral.

O CRPG disponibiliza apoios às pessoas com lesão cerebral adquirida e aos seus empregadores.  CONTACTE-NOS