E depois da COVID-19?

Sequelas da doença e impactos na vida pessoal e no trabalho

A infeção por Sars-Cov-2 pode ter impactos significativos na qualidade de vida das pessoas, podendo dificultar o regresso à vida ativa e profissional. Conheça os principais impactos após infeção.

Cerca de um ano depois de a Organização Mundial da Saúde declarar a pandemia, o mundo regista mais de 116 milhões de pessoas infetadas e perto de 2,6 milhões mortes por COVID-19[1]. Em Portugal, quase 8% da população foi infetada pelo Sars-Cov-2, superando as 810 mil pessoas[2].

Depois da fase ativa da infeção, um número significativo de pessoas manifesta problemas continuados a vários níveis. Os resultados de investigação continuam a assumir incertezas quanto às implicações das sequelas na qualidade de vida dos ‘recuperados’ da COVID-19, mas também a indiciar benefícios da intervenção precoce e multidisciplinar no âmbito da reabilitação.

COVID-19: impactos após infeção 

São vários os relatos de pessoas e profissionais de saúde que mencionam sequelas da doença COVID-19 que perduram para além da fase ativa da infeção por Sars-Cov-2, particularmente presentes nas pessoas que tiveram necessidade de internamento, mas também em casos de manifestação menos grave da doença.

Apesar da necessidade de serem desenvolvidos mais estudos sobre a duração das sequelas da doença COVID-19 e do seu impacto no desempenho profissional e na participação social das pessoas que contraíram a infeção, são frequentes as referências a impactos cognitivos, emocionais, comportamentais, físicos, sociais e profissionais.

Cognitivos

Dificuldades nos domínios

  • memória
  • atenção
  • concentração
  • processamento de informações
  • processo de tomada de decisão
  • funções executivas

Emocionais

  • alterações de humor
  • stresse
  • ansiedade
  • alterações do padrão do sono
  • dificuldades de regulação emocional
  • sentimentos de vulnerabilidade
  • sentimentos de falta de confiança e de desesperança
  • medo face ao futuro

Comportamentais

  • manifestações das perturbações do humor e da ansiedade
  • comportamentos aditivos
  • comportamentos de alienação
  • desconexão com a realidade
  • comportamentos agressivos
  • inconformismo
  • hipervalorização ou negligência com os autocuidados, medo de não ser capaz de tratar das responsabilidades habituais

Físicos

  • diminuição da resistência física e muscular
  • diminuição da capacidade respiratória
  • fadiga
  • dor crónica
  • problemas renais, cardíacos, gastrointestinais
  • problemas musculares e relacionados com o movimento

Sociais

  • perda de uma rotina diária previsível, segura e com um sentido de propósito
  • dificuldade na execução das atividades do dia a dia
  • redução do rendimento económico
  • estigma e isolamento sociais

Membros da família e cuidadores também podem sentir ansiedade e problemas de humor e sono.

Profissionais

  • absentismo elevado ou incapacidade temporária para o trabalho
  • risco de perda do emprego
  • insegurança quando às capacidades e competências exigidas para o pleno exercício profissional
  • dificuldades de adaptação no retorno ao trabalho

Impactos pós COVID-19: profissionais, cognitivos, emocionais, comportamentais, físicos, sociais, profissionais - ilustração

A resposta a estes impactos requer uma abordagem multidisciplinar. Para o regresso bem-sucedido à vida ativa e profissional, a frequência de um programa de reabilitação e reintegração profissional pode ser decisiva.

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Referências:

[1] In.: https://covid19.who.int/ (consulta a 08/03/2021)

[2] In: https://covid19.min-saude.pt/relatorio-de-situacao/. A população residente em Portugal é de 10.295.909, segundo a página oficial do INE. (consultas a 08/03/2021)

J. Halpin et al., «Postdischarge symptoms and rehabilitation needs in survivors of COVID‐19 infection: A cross‐sectional evaluation», Journal of Medical Virology, Jul. 2020, doi: 10.1002/jmv.26368.

Sivan, S. Halpin, L. Hollingworth, N. Snook, K. Hickman, e I. J. Clifton,«Development of an Integrated Rehabilitation Pathway for Individuals Recovering from Covid-19 in the Community», Journal of Rehabilitation Medicine, vol. 52, n. 8, pp. 1–5, Ago. 2020, doi: 10.2340/16501977-2727.

Xiong et al., «Impact of COVID-19 pandemic on mental health in the general population: A systematic review», Journal of Affective Disorders, vol. 277, pp. 55–64, Dez. 2020, doi:10.1016/j.jad.2020.08.001.

T. Wade, «Rehabilitation after COVID-19: an evidence-based approach», Clinical Medicine, vol. 20, n. 4, pp. 359–365, Jul. 2020, doi: 10.7861/clinmed.2020-0353.

Gutenbrunner et al., «Why Rehabilitation must have priority during and after the COVID-19-pandemic: A position statement of the Global Rehabilitation Alliance», Journal of Rehabilitation Medicine, vol. 52, n. 7, p. jrm00081, Jul. 2020, doi: 10.2340/16501977-2713.