
No dia 28 de fevereiro, decorreu no CRPG o evento ‘Cancro e Trabalho – uma relação a explorar’, contando ainda com transmissão online.
O evento foi composto por 3 painéis diferentes intitulados ‘Doenças oncológicas e funcionalidade’, ‘Preparar o retorno ao trabalho – uma abordagem multidisciplinar’ e ‘Retorno ao trabalho – a perspetiva das pessoas e dos empregadores’ e onde estiveram presentes médicos, psicólogos, enfermeiros, terapeutas, entidades empregadoras e testemunhos na 1ª pessoa, sobre o que é viver com uma doença oncológica e como foi o retorno ao trabalho.
Dr.ª Mónica Salazar, Presidente do Conselho de Administração do CRPG, realizou a abertura da sessão e reconheceu que “a reabilitação e o apoio adequados podem fazer uma grande diferença na capacidade de as pessoas retornarem com sucesso ao trabalho, após doença oncológica”.
No primeiro painel nomeado ‘Doenças oncológicas e funcionalidade’ a Dr.ª Andreia Capela – Médica Oncologista do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, assume que existem fatores a considerar quando se prepara o regresso ao trabalho como “características pessoais daquela pessoa, quais são os efeitos do cancro e do seu tratamento que perduram, quais são as características do posto laboral que vai ocupar e como é que elas se adequam às limitações”. Nesse seguimento o Professor Doutor Eduardo Carqueja, Diretor do Serviço de Psicologia do Centro Hospitalar Universitário de São João, alerta para a necessidade de refletir sobre as questões pessoais adiantadas pela Dr.ª Andreia Capela porque “alguém que chega a determinada altura da vida e tem uma doença., tem uma história passada, tem um presente que vai viver a doença e depois virá a ter um futuro”. Considera que é necessário perceber “em que determinada altura da vida esta pessoa é afetada pela doença” para perceber que impacto terá no retorno ao trabalho.
Na perspetiva da Enf.ª Anabela Amarelo, Enfermeira Especialista em Reabilitação, do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, apesar da taxa de sobrevivência estar a aumentar é necessário também que as pessoas consigam ter qualidade de vida após a doença oncológica e o “trabalho é uma ‘chatice’ mas ao mesmo tempo é uma necessidade e uma bênção…acaba por ser a extensão da própria personalidade”.
A Dr.ª Monick Leal, Coordenadora do Departamento de Apoio ao Doente e das Unidades de Psico-Oncologia da Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Norte, em conclusão das intervenções sobre o painel ‘Doenças oncológicas e funcionalidade’ salientou que “temos de perceber que o trabalho é quase como a identidade da pessoa”, “é preciso educar não só os doentes como os empregadores e os próprios profissionais de saúde para estes efeitos físicos, cognitivos, que vêem de sequelas dos tratamentos e da doença”.
Foi percebido que existem dificuldades em regressar ao trabalho após os impactos da doença e dos seus tratamentos e que são necessárias várias respostas que apoiem as pessoas e as entidades empregadoras. No segundo painel intitulado ‘Preparar o retorno ao trabalho – uma abordagem multidisciplinar’ foi apresentado o programa de reabilitação e reintegração profissional para pessoas com experiência em doença oncológica, como uma resposta especializada neste domínio.
O Dr. Castro Correia, que no CRPG efetua avaliações da capacidade de trabalho, identificação de funções profissionais compatíveis com a condição de saúde das pessoas e de adaptações do posto de trabalho, refere que ao saber que um colaborador irá voltar para o posto de trabalho “poderia haver uma reunião que fizesse com que se conseguisse avaliar a sua real capacidade nesta altura para desenvolver a atividade e também (…) se for necessário, fazer alguma alteração nas abordagens, no posto de trabalho ou até equacionar a mudança do posto de trabalho.”
Nos últimos anos, o CRPG tem apoiado diversas pessoas com experiência em doença oncológica. Fábio Relvas, terapeuta ocupacional no CRPG, destaca: “De facto, são muitas as preocupações que as pessoas com experiência em doença oncológica identificam, sobretudo devido ao facto de acharem que as suas capacidades atualmente são muito diferentes daquilo que eram, e por isso têm muitas dúvidas sobre como e quando podem voltar ao trabalho”.
Viviana Teixeira, psicóloga no CRPG, apresentou o programa de reabilitação e reintegração profissional de pessoas após doença oncológica e explicou “nós já tínhamos uma intervenção geral de doenças e acidentes, mas ao longo do tempo verificamos que as pessoas com experiência em doença oncológica, antes de retomar ao trabalho necessitavam de ter apoio para trabalhar determinados temas específicos decorrentes da doença.”
No terceiro painel, Fátima Sousa, pessoa com experiência em doença oncológica, quando questionada sobre quais as principais dúvidas ou receios sobre o retorno ao trabalho, referiu “A confiança, ganhar novamente a segurança de voltar ao ativo. As questões que me passam pela cabeça são as seguintes- Será que sou capaz? Será que vou conseguir desenvolver novamente todo o meu trabalho?” Fátima Silva, pessoa com experiência em doença oncológica que se encontra integrada na Ecoconcept/Matriz Opulenta, partilhou a sua satisfação com o modo como foi acolhida nessa entidade, mas reconhece como entrave do retorno ao trabalho, em geral, a falta de comunicação e estigma associado: “Existe receio de nos colocar a pergunta, quais são as nossas capacidades? (…) portanto não existe diálogo suficiente ou abertura suficiente ainda para nos questionar ‘O que é que queres fazer? Como te podemos ajudar”.
Na perspetiva de uma entidade empregadora, Dra. Ingrid Ferreira, Diretora de Marketing da Ecoconcept/Matriz Opulenta, reconhece a necessidade de os empregadores terem acesso a mais informação e serviços especializados que os ajudem a apoiar os colaboradores no retorno ao trabalho. Salientou “Temos que estar à vontade com as pessoas, acompanhar e tentar facilitar a comunicação e entender as possíveis limitações”.
O Dr. Jerónimo Sousa, Diretor do CRPG, no seu comentário final, referiu “tratamos aqui de cancro e tratamos de cancro como um problema fundamental na sociedade moderna.” Assumindo a necessidade de um olhar mais abrangente sobre as pessoas com experiência em doença oncológica alargando a multidisciplinaridade que existe na saúde, sugere, “Esta multidisciplinaridade, precisamos de a alargar à reabilitação profissional”.
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