Apresentação da Iniciativa Retorno pós-COVID

A Iniciativa Retorno pós-COVID foi apresentada, no dia 11 junho, no CRPG – Centro de Reabilitação Profissional de Gaia e contou com a presença do Secretário de Estado Adjunto, do Trabalho e da Formação Profissional, Dr. Miguel Cabrita, e com o testemunho de médicos e de pessoas afetadas por sequelas da COVID-19.

Na abertura do evento, o Secretário de Estado sublinhou o papel do CRPG nestes quase 30 anos, reconhecendo-o como uma referência a nível nacional, em particular pelo trabalho que tem feito em prol das pessoas, nas áreas da reabilitação profissional, formação e emprego.

Sobre a Iniciativa Retorno Pós-COVID relevou a sua importância, particularmente no momento em que nos encontramos, por ser parte “de uma resposta coletiva aos impactos da COVID-19 (…). Nesta fase de recuperação, que deve ser para todos aqueles que ficaram com sequelas a vários níveis – físicas, cognitivas, psicológicas, emocionais, e que têm, naturalmente, consequências profissionais, uma das respostas que podemos dar é a da capacitação das pessoas, para lhes dar ferramentas para que possam ultrapassar as limitações decorrentes do quadro clínico que tiveram que atravessar.” (…)

Acrescentou ainda que esta Iniciativa com uma atenção muito particular à reabilitação profissional “é um complemento muito grande ao trabalho que tem vindo a ser feito, também do lado da formação pelo IEFP e em geral pelo sistema de formação profissional a nível nacional.”

Terminou a sua intervenção salientando a lógica inclusiva desta Iniciativa, que contempla uma resposta de curto-prazo, online, combinando-a com uma resposta presencial, permitindo a capacitação de todos, lançando assim as bases para o futuro e investindo na Aprendizagem ao Longo da Vida.

Estas iniciativas contribuem para fazer de Portugal um país mais igual, mais justo, mais inclusivo, mais coeso e mais capaz de proporcionar às pessoas níveis de bem-estar apropriados.

SE, Dr. Miguel Cabrita

Seguiu-se a intervenção do Dr. Diogo Pereira, Médico neurologista, que integra a equipa do Estudo NeuroCovid, do Centro Hospitalar Universitário do Porto. Apresentou as sequelas da COVID-19 do foro neurológico, não só durante, mas também após a infeção. De acordo com as investigações em curso,

“Os quadros como alterações cognitivas, dores de cabeça e alterações de sono são, provavelmente, os maiores causadores de impacto funcional e de deterioração da qualidade de vida, sendo importante perceber a taxa de persistência desses sintomas”, referiu o neurologista.

Para a Dra. Sandra Braz, Médica internista e coordenadora de uma das unidades de internamento para doentes COVID-19, no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, esta atividade tem sido a mais difícil da sua vida profissional. O serviço criado visa seguir em consulta, presencialmente, doentes que tiveram doença grave e crítica e “pretende minimizar o impacto que as sequelas têm na qualidade de vida, na sua dinâmica familiar e na atividade profissional dos recuperados.”

Depois de 13 meses de atividade desta consulta, por onde passaram cerca de 2 500 doentes, Sandra Braz reconheceu três grandes grupos de problemas nos seus utentes: “manifestações físicas, manifestações neurocognitivas psiquiátricas e problemas sociais e económicos.”

Estas diferentes manifestações têm diferentes impactos e, em muitos casos “Além de haver um atraso no retorno à atividade profissional, que acontece com a maioria dos doentes”, há um “grande medo de não ser capaz de desempenhar as funções da mesma forma que o faziam antes da doença”, o que, nalguns casos, é gerador de ansiedade e de depressão, acrescentou. “Muitos doentes têm receio de voltar a trabalhar, de sair à rua e de estar com a família e com amigos. O medo da reinfeção é, para alguns doentes, muito intenso e muito castrador”, referiu a médica.

Marta Rangel e Ricardo Oliveira, pessoas afetadas pela Covid-19, testemunharam a forma como sentem e vivem os seus efeitos. Salientaram ainda que o facto de serem jovens, saudáveis e ativos, aparentemente sem qualquer fator de risco, não significou ausência de sequelas e impactos a vários níveis.

Marta Rangel acredita que “se tivesse de ter regressado logo ao trabalho, teria tido certamente algumas dificuldades, porque a infeção por COVID foi bastante incapacitante durante algum tempo”.

Já para Ricardo Oliveira, que foi induzido em coma e que esteve em cuidados intensivos mais de um mês no Hospital Pedro Hispano (Matosinhos), o que mais o “castiga neste momento é ao nível psicológico”, apesar de apresentar limitações físicas derivadas das tromboses que sofreu. Embora tenha ficado com muitas sequelas para o resto da vida, apelou para que as pessoas não desistam, porque, depois de recuperar da doença, conseguiu concretizar o sonho de abrir o próprio restaurante.

Após enquadramento, através das diferentes perspetivas, a Iniciativa Retorno pós-COVID foi apresentada pelo Dr. Jerónimo de Sousa, Diretor do CRPG. O foco esteve no porquê e para quê do seu lançamento, nos objetivos visados, nos destinatários e formas de aceder à Iniciativa.

Como referido por Dr. Jerónimo de Sousa, a Iniciativa centra-se nos impactos da COVID-19 na vida profissional. E, para que a retoma do emprego possa acontecer, urge recuperar competências, capacitar as pessoas. Referiu ainda a importância de ajudar as pessoas a reconhecer os sintomas e de as apoiar a desenvolver estratégias para lidar com a nova condição, papel da equipa multidisciplinar da Iniciativa.

Esta resposta visa apoiar as pessoas que recuperaram da fase ativa da infeção da COVID-19, mas que continuam a experimentar dificuldades no seu dia a dia e que sentem ou antecipam limitações no seu desempenho profissional. Abrange as pessoas em idade ativa, residentes em Portugal Continental, e é desenvolvida através de ações à distância (online), e de ações presenciais, em 4 polos: Porto, Coimbra, Lisboa e Faro.

Dr. Jerónimo de Sousa, Diretor do CRPG

Encerraram o evento o Dr. António Leite, Vice-Presidente do Conselho Diretivo do IEFP e a Dra. Mónica Salazar, Presidente do Conselho de Administração do CRPG.

Para Dr. António Leite, com esta Iniciativa, “O CRPG dá exemplo de serviço público na verdadeira aceção da palavra, i.e., de uma instituição que existe não para resolver os próprios problemas, mas os problemas daqueles a quem serve. Dá um exemplo ao país do que é serviço público.” No seu discurso, salientou o papel do Diretor do CRPG, pela sua capacidade de continuar a inovar, de fazer o que está certo para determinada resposta, na hora certa, e pela sua persistência em lutar por um melhor serviço público.

O CRPG a “tentar dar uma resposta no âmbito da sua missão. Um exemplo que merece ser (re)conhecido, que merece gratidão”, concluiu, valorizando-o.

A Dra. Mónica Salazar encerrou o evento pondo a tónica numa Iniciativa que constituirá uma resposta útil, inclusiva e com os olhos postos no futuro.

Assista à sessão de apresentação em https://www.youtube.com/watch?v=bYLgprfbrmg